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Carta aberta à psis em (de)formação

Grupo Reinserir

Vocês devem e precisam se afetar.

A vida é doida e doída. Difícil. Cansativa. Não existe neutralidade e tampouco é possível se comprometer com uma prática ética e crítica caindo na falácia de “você não pode se abalar”.

A psicologia foi pra mim um abalamento profundo. Ainda bem. Desde 2015 nada está no mesmo lugar. E ainda bem mesmo.

Você vai se ver no outro, vai se identificar e chorar durante muitas das suas sessões de terapia ou no bar com companheires de formação, diante das mazelas deste mundo.

Você vai ser derrubada por um caso clínico que pode te deixar improdutiva por um dia inteiro, ou dois (ou mais). E ainda vai precisar continuar produzindo textos, análises e relatórios por que, bem, a universidade não está te preparando (mesmo) para ser uma profissional humanizada. Por maiores que sejam os discursos daquela semana sobre como formar profissionais da saúde humanizados. Não cai nessa.

Você pode acordar num dia completamente desiludida e desesperançosa com a vida, com o estado, com o mundo, com a militância, com a profissão, com a sua turma e com aquele professor favorito. Calma. Você gosta de café? Toma um, se ainda não aprendeu a gostar, uma hora vai. Mas cuidado com o estômago (sério, você precisa dele pra se formar).

E no dia seguinte pode ser que você acorde abraçando todo mundo, que veja nas pessoas a faísca inebriante da transformação radical dessa sociedade. Não se importe de ser emocionada e achar que pode mudar o mundo. Vocês podem mesmo - mas não só pela psicologia, tá?!

Respeite os seus dias, o seu corpo, o seu ciclo, sua dor, sua memória e cada um dos seus amores. Foram essas coisas que te colocaram aí.

Por fim, você vai (ou deveria) abrir mão das notas altas em todas as matérias. Nem todas fazem sentido. E nem precisam fazer. (insira aqui algo sobre o fracasso escolar) Sobreviva. Se apegue àquilo que faz sentido mesmo com todas as contradições (sim, elas existem mesmo e não é culpa sua - nem sempre). Se relacione. As pessoas valem a pena, não as instituições. Inclusive, sempre que puder, imploda estas últimas. Acredite, mas não só. É indispensável CONSTRUIR aquilo que se acredita.

P.S.: Não, a sua família não vai levar tudo isso em conta.

Texto escrito pela nossa Nárrina em @oqueterapeutapensa

Na imagem: nossa psi Maria Julia ❤