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"Devo me libertar daquele que me sufoca, porque realmente não posso respirar”

Grupo Reinserir

Estamos há mais de um ano vivendo os efeitos da pandemia, em todos os setores. Durante esse período começamos a nos relacionar de maneira diferente, com as pessoas, tempo, espaço e etc. Isolados, procuramos sempre pequenos alívios no entretenimento e foi assim que o Big Brother Brasil entrou na nossa casa. De outro jeito.

Ontem, durante o programa, João – um dos participantes do reality – relatou um episódio que aconteceu com ele poucos dias antes. Enquanto ajudava outro participante, Rodolffo, a colocar a roupa do monstro, escutou do sertanejo que o cabelo da fantasia – de personagem pré-histórico - era parecido com o dele. Na dinâmica, ao vivo, ao relatar o acontecido, o professor disse: “Lá dentro, no quarto, me calei, fiquei calado, mas você não sabe o quanto aquilo que você falou me machucou. Machucou muito. E não adianta você vir com o discurso que não teve a intenção porque eu tô cansado de ouvir isso, não é só aqui dentro. É lá fora também. Nunca ninguém tem a intenção de machucar. Nunca ninguém tem a intenção de fazer as coisas com a gente.”

O que João fez foi relatar algo vivenciado por ele e por todas as pessoas pretas, cotidianamente. O racismo, disfarçado de piadas, apelidos e brincadeiras, não deixa de ser violento – ou menos racismo. “Eu não tive a intenção”; “É só uma piada”; “Já falaram comigo e eu não fiquei com raiva”; “Eu tenho pai/amigo/irmão que também é preto”. Essas e outras formas de amenizar a violência são comuns após as práticas de racismo ser apontadas. Em seu livro “Racismo Recreativo”, Adilson Moreira diz “o humor racista é um tipo de discurso de ódio, é um tipo de mensagem que comunica desprezo, que comunica condescendência por minorias raciais”.

Por aqui, reforçamos que racismo é violência, da maneira que ele aparecer. Não é só sobre cabelo. Não é engraçado. Não é piada. Nunca será.

Toda solidariedade a João e a todas/todos pretas/pretos que sofrem no dia a dia os efeitos do racismo. Em tempos de pandemia, que a sobreviver virou luta diária, fazemos coro com Fanon e lutamos para libertação de tudo aquilo que nos sufoca, que nos violenta.

Imagem: @jeffcorsi