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Morango do amor, boobie goods e a ecobag da mubi: o que tudo isso tem em comum?

Grupo Reinserir

À primeira vista, parecem coisas de mundos diferentes, mas todas essas escolhas carregam algo em comum: o desejo humano profundo de pertencimento.

Entendemos que nossas formas de ser, sentir e desejar se constroem nas relações sociais. Não somos sujeitos isolados que escolhem livremente o que gostam ou não.

Nossa subjetividade é moldada nas tramas da cultura, nas vivências coletivas, nos símbolos compartilhados. Vivemos em uma sociedade em que os espaços de encontro, convivência e criação coletiva estão cada vez mais esvaziados. Escolas estão precarizadas, centros culturais fecham, praças perdem seu uso cotidiano e associações comunitárias deixam de existir. Nesse contexto, o consumo passa a ocupar o lugar da construção de identidade.

Quando o espaço coletivo se retrai, a compra se transforma em gesto de expressão. Vestir uma camiseta com uma frase engraçada, ir a shows caros, carregar uma bolsa de uma curadoria de filmes, pedir o mesmo doce com caramelo vermelho que viralizou. Tudo isso se torna uma forma de dizer: “olha quem eu sou”, “com quem eu me pareço”, “onde eu pertenço”.

Muita gente critica esses comportamentos, rindo do que considera “modinha” e exaltando o que chama de “culto” ou “refinado”. No entanto, todas essas escolhas operam sob a mesma lógica. Estamos, de diferentes formas, buscando nos conectar, mesmo quando esse caminho está mediado pelo mercado. Essa crítica não é sobre afirmar que tudo isso é falso ou vazio. Pelo contrário, trata-se de reconhecer que o consumo está preenchendo, da maneira possível, um espaço que antes era ocupado pela vida coletiva. Enquanto as formas de encontro e construções coletivas estiverem esvaziadas e fragilizadas, continuaremos tentando nos encontrar em embalagens, estampas, feeds e bolsas.

Por isso, mais do que julgar o gosto do outro, é importante desenvolver consciência crítica sobre o modo como estamos construindo nossas subjetividades. Entender o que nossos hábitos revelam sobre as condições sociais em que vivemos pode ser o primeiro passo. E, com essa lucidez, talvez possamos criar espaços mais vivos de trocas que não passem necessariamente por um carrinho de compras.