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Resiliência ou naturalização do sofrimento?

Grupo Reinserir

Nos últimos anos, a palavra resiliência se tornou um mantra na psicologia, no mercado de trabalho e até na vida pessoal. A ideia de resiliência vem da física: é a capacidade que um material tem de voltar ao seu estado original após sofrer impacto. Mas quando aplicamos isso à vida humana, algo se perde na metáfora. A exigência de ser resiliente muitas vezes significa suportar violências e injustiças sem contestá-las, como se a capacidade de aguentar fosse mais importante do que a necessidade de transformar.

O discurso da resiliência frequentemente aparece onde há exploração e desigualdade. No trabalho, é o funcionário que precisa “dar um jeito” e se manter produtivo mesmo sob péssimas condições. Na vida pessoal, é quem precisa lidar sozinho com problemas estruturais, como a falta de acesso à saúde, moradia e segurança. A ideia de que devemos sempre “superar” as dificuldades individualiza o sofrimento e nos impede de questionar suas causas sociais.

Isso significa que devemos rejeitar totalmente a resiliência? Não necessariamente. Há momentos em que encontrar força para seguir em frente é fundamental. Mas essa força não pode ser uma obrigação. Nem toda dor deve ser silenciada, nem toda injustiça deve ser suportada. Em vez de exaltar a resiliência como uma virtude inquestionável, talvez seja mais importante perguntar: por que tantas pessoas precisam ser resilientes o tempo todo?

A verdadeira mudança não vem apenas da capacidade de resistir, mas também da possibilidade de transformar o que nos faz adoecer. Afinal, ninguém deveria ser forçado a ser forte o tempo todo, certo?