"Troquei o medo da morte pelo medo do futuro"

O medo de perder o que se conquistou é uma marca profunda para muitas pessoas que cresceram em condições de pobreza e, com esforço e oportunidades, conseguiram acessar uma vida mais confortável. Essa conquista, que deveria ser motivo de celebração, muitas vezes se torna fonte de angústia. A insegurança material vivida ao longo da vida não desaparece com a mudança de contexto; ela se traduz em uma ansiedade constante, como se tudo pudesse desmoronar a qualquer momento.

Um exemplo comum é a dificuldade em acreditar que o lugar conquistado é, de fato, um espaço que pode ser ocupado de forma legítima e permanente. É como se houvesse uma urgência em aproveitar tudo agora, porque o amanhã é incerto. Ou até mesmo não aproveitar as conquistas com a urgência de ter cada vez mais e mais, afinal, no mundo que perdeu sua finitude, o muito ainda é pouco. E a gente sabe que tem sido muito trabalhoso, viu?

E essa experiência não é individual; é compartilhada por muitas pessoas que carregam o peso de um histórico de exclusão. Isso se reflete em um controle excessivo sobre o presente, tentando garantir que não haja perdas futuras. No entanto, o paradoxo é evidente: o medo de perder o que foi conquistado impede que se desfrute verdadeiramente do que já se tem. A constante vigilância sobre o que pode dar errado toma o lugar do prazer de viver o momento presente.
Essa é uma questão que exige um olhar crítico e acolhedor, pois ela denuncia como o sistema perpetua a ideia de que certos espaços e acessos não são para todos. É uma luta interna e coletiva: romper com esse ciclo de medo, reconhecer a legitimidade das conquistas e encontrar formas de viver plenamente em meio a essas transformações.

Afinal, mais do que conquistar lugares, é preciso aprender a habitá-los com pertencimento. Então, vamos combinar que nesse fim de ano vamos ter uma pausa? Deixar de lado, pouco que seja, esse controle e ir pra piscina desse prédio ou cuidar da sua hortinha que tanto quis ter? Bora?